domingo, 16 de outubro de 2011

Entre flores

  Sou como as árvores que esperam por um ano pela companhia das flores. Elas sempre esperam. Sabem que por mais longo seja o tempo, as flores voltarão a colorir tudo que por muito tempo fora cinza.
  E essa doce primavera que insiste em partir e deixar secar toda seu esforço em tornar belo o que nos cerca.

sábado, 15 de outubro de 2011

E se o amor é tão bom, por que nos machuca?

  Entreguei-lhe meu coração, despedaçado, a fim de reconstruir o que se foi rompido até então por quem não soube conduzir um verdadeiro amor. Fiz o possível para unir o medo de desaprender a amar ao laço que envolvia meu peito, temendo a solidão. Não a solidão causada pela falta de um corpo, porém a de esquecer-me do fruto do que me causara cortes profundos, de seu significado em meio a tanta turbulência. 
  Tudo torna-se tão claro e sombrio quando a saudade surge, fazendo-me lembrar do que era para ser esquecido. 
  O amor é contraditório, surreal. Não limita a intensidade. Não cria opções. Impõe-se apenas a seu favor, quão independente seja seu condutor. Incalculável. Incontrolável. Traiçoeiro. Cria oportunidades, nos abraça, nos droga, nos vicia, nos mata. Antes fosse a morte indolente, rápida, súbita. Não a que sangra vagarosamente, sucumbindo às das fendas da alma, às feridas da saudade, à dor da ilusão.

E quanto à vida que nos sobrecarrega, de nada vale sem a dor. Não conheceríamos o paraíso. Desconheceríamos o amor.


terça-feira, 10 de maio de 2011

Ventos do Oeste

 E aqui faço a minha história. Não se sabe seu início ou seu fim. Não se sabe sua razão ou suas consequências. Sei que vivo para o futuro, esqueço meu momento. Vivo para o amanhã e esqueço de aproveitar a felicidade que me é agora oferecida. O medo me impede de sofrer na hora certa e me obriga a antecipar a dor. O medo me carrega pelos seus braços abrindo caminhos errados, me impedindo de esperar que os nós se desatem e a vida se desembarace.
  Não espero os acontecimentos surgirem, que as coisas venham, assim como uma folha que se arrasta perdida em uma ventania pelo deserto.
  Gostaria de voltar no tempo e mudar tudo, mas não posso.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Quanto às marcas...

 Escrevo a lápis, porque talvez um dia possa escolher a procedência dessas palavras. Podem ser como pequenos arranhões, que em pouco tempo são remediados, ou como cortes profundos, provocando a dor que não se cura e a cicatriz que não se apaga.

 Não há o que temer, as marcas estão impressas, escondidas atrás de cada palavra, implorando liberdade.
 Não há o que temer, porque pior que ouvir o desespero é calar a esperança.
 Não há o que temer.

 E o que me sufocava, de fato, não era a falta de palavras, era a falta de ouvidos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sintomas do verbo amar

 Olhar profundamente em seus olhos e imaginar uma vida eterna.
 Perceber que pensamentos foram corroídos, o corpo mumificado, a alma persuadida de que essa é a única razão para se viver.
 Olhar para trás e indagar o motivo de minha existência até então.
 Não só ter grandes dias de uma vida, mas tê-lo como uma vida  tornando meus dias grandes.
 Amor que transborda o peito, escraviza o corpo, devasta a alma, devora a vida, como uma doença incurável. Mas a doença faz querer viver, reintegra. O amor não, me faz morrer aos poucos...
 

3001

 Na vida, cometemos muitos erros, mas eles me trouxeram até vocês.

 Foram anos de histórias, inúmeras memórias. Aprendi a sorrir e a chorar de verdade, a não ter medo da realidade. Aqui, construí uma vida com base no amor que vocês me concederam. Todo vocês, sem exceção.
 Criamos uma amizade inabalável e tão exata como as leis da física. Sinto-me vencedora de uma guerra histórica, em que todos nós somos sobreviventes de anos de batalha por conta da sabedoria dos grandes mestres que souberam nos instruir e tornar completa a primeira etapa do percurso. Muitas outras guerras virão, mas saberemos como agir. Não somos mais iniciantes, temos em nossas mãos a arma para vencer inimigos futuros. Usaremos nossa mente para agir com o coração, tornando válido tudo o que se foi aprendido com amor.
 Nossa amizade consolidada possa talvez um dia se dissolver, mas para nós, que usamos a razão, fica fácil lembrar que uma dia aprendemos que nada se cria nem se destrói, são apenas transformações. Estamos dispostos a deixar a vida nos transformar.
 Esses sete anos junto a vocês não me tornaram mais adulta, me fizeram menos criança, pois o que não aprendi durante toda a minha infância foi que um dia eu não saberia viver sem vocês. Essa, sem dúvidas, foi a matéria mais fácil. Não há dificuldades em aprender o que já se é sabido. Não foi preciso estudar a história de suas origens, a ciência da amizade ou a matemática do amor para saber qual seria a média final. Não foi preciso teorias para criar nossas rotas e concluirmos que seríamos vencedores. Escrevemos o destino que borracha nenhuma apagará.

Amo vocês, 3001.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Tabuleiro da vida

  Sempre sonhei em viver em um país normal. Em um lugar onde pessoas não são como coisas. Em que não nos confundissem com peças de xadrez e nos manuseassem em busca de vitória. Vitória de um só homem, uma só pessoa, triunfo não compartilhado.
  É triste saber que a sociedade gira em torno de poder. Que todos somos alimentos digeridos do que está em alto posto. Saber o nosso lugar neste mundo hostil não é uma tarefa difícil, ao passo que vivemos no planeta em que nossos valores estão em segundo plano. Aquilo que chamamos de felicidade encontra-se fora do alcance, talvez em outra dimensão.  
  Nós, as peças expostas, somos alvo da riqueza. Esta, disposta a sugar toda a simplicidade que um dia foi a fonte de um mundo justo. O mundo que agora não mais reconheço de infinita desonestidade.
  Os jogadores  ainda não se definiram como adversários ou amigos em partida. De certo modo, todos sabemos que um dia haverá xeque-mate. Não é preciso manual para saber que o jogo só termina quando há um ganhador.
  Se haverá revanche, não sabemos, é uma opção para os que manejam as peças. Sobretudo, não devemos nos preocupar, pois ganhando ou perdendo, continuaremos sem agir, servindo de passatempo aos que veem o mundo como um verdadeiro brinquedo. Peças são apenas peças, algumas mais importantes, outras fundamentais, o resto apenas reforços ou garantias de que os jogadores permanecerão na posição em que se encontram: intactos, saboreando o prazer de não medir seus esforços, sentados em suas poltronas de couro à base de Royal Diamond e Cohiba Behike, sendo gentis com sua ignorância ao dar gargalhadas de sua própria hipocrisia.
  É, infelizmente já é tarde. O jogo certamente foi confundido. Não somos peças que compõem um tabuleiro de xadrez. Estamos enfileirados, nos desmontando, em carreiras de dominós.